As trocas econômicas, culturais e midiáticas globais resultaram em aproximações inusitadas entre grupos humanos distantes como também inseriram novos processos de territorialização e distinção – alterando as próprias formas de conceber identidades sociais em contextos de reorganização do poder (Canclini, 2006). Percebe-se com isto que a referência à África em sua generalidade, institui expressões de africanidades diversas – de modo a realçar sua condição heterogênea, difusa e des-territorializada frente aos processos de homogeneização e mundialização da cultura (Ortiz, 2005).
Referências auto-identitárias postas em contato ativam diversos fluxos de significados interligados, transmutando os próprios sentidos de “aqui” e “lá” dos africanos e seus descendentes em diversas partes do mundo. Exílios traumáticos e histórias desfeitas pela escravidão em convergência com interesses que se expressam na consciência individual descentralizada e multifocada, noção referenciada como “dupla consciência” em W.E.B. Du Bois; processos coletivos, através de mobilizações políticas que integram e atravessam as fronteiras das nações-estados, metaforizada no “Atlântico Negro” de Paul Gilroy; processos de libertação colonial – inserem novas imagens e interpretações a estes processos identitários, consolidando o que vem sendo identificado como o contexto das múltiplas identidades (Hall, 1996: 70). A idéia de “diáspora”, mais comumente associada exclusivamente a deslocamento forçado, vitimização, alienação e perdas, passa então a ser incorporada nos discursos nativos ativando imagens e narrativas que identificam as produções visuais a partir de sua relação com a África, (ou mesmo de sua negação). Almejam concebê-la desde suas diferenças em relação às demais, portanto, introduzindo novas noções de fronteiras. O termo diáspora negra, em foco nas discussões sobre pós-colonialismo, visa correlacionar as narrativas e conexões de sentido que integram experiências dos africanos e seus descendentes em diversas partes do mundo, seja para onde foram levados no passado como escravos ou ainda, na atualidade, decorrentes da descolonização; ou ainda, pelos imperativos da migração em busca de trabalho, refúgio, repatriação ou viagem.